O PERIGO DOS MITOS VIVOS
“Aqueles mitos que serviram a sociedades antigas surgiram de encontros na experiência tribal coletiva e na privacidade do medo pessoal.
A tendência de nosso ego de apoderar-se da imagem e mantê-la cativa de nossa pauta por segurança leva ao mais velho pecado da religião, o pecado da idolatria.
O mistério vivo é reforçado num conceito, numa crença em vez de uma experiência, e perde o vigor do mistério. Então a pessoa é deixada somente com os artefatos da crença (que precisam ser repetidamente reforçados, como nos reavivamentos religiosos ou nas concentrações de torcida esportiva), mas não a experiência viva (se percebe na fala dos que se dizem cristãos: há julgamento em relação àqueles que têm vícios, por exemplo e além de defender o armamento da população).
Embora tenhamos sofrido a perda dos velhos mitos tribais, em geral, não podemos manufaturar novos. Visões utópicas aparecem de tempos em tempos e nunca são bem-sucedidas no teste da vida real, porque vêm somente das “boas intenções” do ego, não das energias que originam os deuses.
O marxismo foi um esforço humanitário racional e bem-intencionado para reparar as dolorosas desigualdades em nossos sistemas econômicos, mas foi condenado ao fracasso porque subestimou os fatores irracionais na humanidade e a insurgência do auto interesse (sem Lênin, desencadeou-se uma luta pelo poder entre Trótski e Josef Stálin, este saiu-se vencedor), e porque, por materializar valores, subestimou a necessidade humana de transcendência.
Em resumo, buscando banir a superstição, o marxismo manufaturou superstições substitutas e crenças, chamamentos ideologicamente gerados para servir e sacrificar, e requereu opressão totalitária para reforçar sua ignorância da alma humana. Da mesma forma, o consumismo moderno é um sistema planejado de círculo contínuo fundamentado largamente em fantasias de demanda geradas de maneira artificial.” James Hollis, Encontrando significado na segunda metade da vida, 2011
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