Diversidade e visões de mundo em agências de inteligência: o ativo organizacional multiplicador de cenários prospectivos
Este é um pequeno resumo do artigo escrito por Daniel Almeida de Macedo, em que ele explica que atividade de inteligência tem por finalidade identificar e avaliar oportunidades e ameaças à consecução dos objetivos de governo.
O autor chama a atenção que uma
ideia chave no conceito de inteligência como atividade, é a epistemologia,
ramo da filosofia que estuda a formação do conhecimento, as diferenças entre
ciência e senso comum, e a validade do saber científico.
O desenvolvimento dos
conhecimentos de inteligência se inicia com as imagens formadas a partir dos
sentidos e depois estas são ligadas as representações mentais.
Esse processo epistemológico de
formação do conhecimento e reorientação das ações de busca e coleta é
denominado pela doutrina de inteligência de ciclo do conhecimento. O
documento de inteligência é o produto de percepção prévia de alguém que experienciou
uma determinada realidade, em seguida pensa e reflete a respeito dessa
experiência, a organiza na forma de uma narrativa que normalmente assume o formato de um relatório escrito, que será difundido na cadeira hierárquica da
instituição em que atua.
Tempo e lugar são decisivos no
processo de contar a história. Ao lado da tendência atávica que as pessoas têm
de reduzir tudo a um ponto de vista pessoal, de olhar o mundo através de suas
próprias mentes, utilizando referenciais exclusivos, que acarretam considerável
perda existencial nas narrativas, a outras influências que podem deturpar ou
esconder realidades. Uma forma de tornar os relatórios menos enviesados seria
ampliar a diversidade cultural dos membros das equipes envolvidas em sua elaboração
e quanto mais diversificada for essa composição maiores serão as chances de se
obter um documento com qualidade.
A ineficácia da CIA em
identificar os sinais de alerta dos ataques de 11/09/2001 é um dos assuntos
mais controversos naquele serviço. Comissão foram formadas, realizaram-se
muitas análises e algo interessante emergiu dessa catarse institucional. Sem
diversidade interna as empresas não conseguem entender e vender seus produtos
ao cliente externo. Várias investigações foram realizadas sobre os atos
preparatórios do 11 de setembro, mas a maioria se debruçou em avaliações
pontuais e poucas deram um passo atrás para examinar a estrutura interna da
própria CIA.
Segundo pesquisa realizada pelo
jornalista Matthew Philip Syed após a primeira triagem na CIA, dois exames
clássicos ainda são realizados para admissão do candidato. O último estágio que
avalia o perfil psicológico e estado mental elimina qualquer um que não seja
realmente brilhante; os profissionais contratados em sua maioria tinham o mesmo
perfil: homens brancos americanos, de religião protestante, provenientes da
elite norte-americana. Essa seria uma patologia recorrente em processos
seletivos de empresas, também chamado de homofilia, tendência em contratar
profissionais que pensam e se parecem com elas mesmas.
A atração de pessoas dos mesmos
círculos seria uma estratégia inconsciente de seus membros de vivenciar o
sentimento gratificante causado pela identificação com um determinado grupo
social.
No livro Globalização: As
Consequências Humanas, Bauman, assevera: “numa localidade homogênea é
extremamente difícil adquirir as qualidades de caráter e habilidades
necessárias para lidar com a diferença humana e situações de incerteza; e na
ausência dessas habilidades e qualidades é facílimo temer o outro, simplesmente
por ser outro – talvez bizarro e diferente, mas primeiro e sobretudo não
familiar, não imediatamente compreensível, não inteiramente sondado,
imprevisível.”
Num estudo sobre os sucesso e
fracassos da CIA, os especialistas em Inteligência Milo Jones e Philipe
Silberzahn, observam que um dos aspectos definidores da identidade e cultura da
CIA de 1947 a 2001 é a homogeneidade de sua equipe. A obra menciona que um
escritório da CIA não tinha profissionais negros, judeus ou mulheres e apenas alguns
eram católicos.
Não há soluções simples para problemas
complexos, principalmente na atividade de Inteligência. Quanto mais difícil o
problema, maior será a necessidade de ter diferentes pontos de vista.
Nossos modos de pensamento são
tão habituais que mal percebemos como eles filtram nossa percepção da
realidade.
Para uma massa crítica uniforme e
pasteurizada de analista da CIA, Bin Laden parecia um ermitão e não representava
risco. A caverna, de onde Bin Laden fez pronunciamento, considerada sagrada
para o muçulmano, não foi vista como parte de um rico acervo simbólico de
sinais.
Atrair pessoas que pensam de forma
afim, aumenta as vulnerabilidades e conquistar a diversidade aumenta as
oportunidades.
Bauman, Jorge Zahar Editora, 1.998
A Nova Defensoria Pública e os
desafios contemporâneos da Inteligência de Estado, 2.020
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