Agosto lilás: balanço de MT durante o mês da campanha
Culturalmente associada à magia, espiritualidade ou intuição, o lilás representa a luta das mulheres por direitos iguais, mas infelizmente o Agosto deste ano esteve mais para o roxo do que para o lilás.
Soares
na sua dissertação de mestrado em Design e Cultura Visual investigou a origem
do luto e simbolismo das cores nas diferentes culturas. O significado de uma
cor pode adquirir interpretações distintas. A cor roxa que simboliza a nobreza
no Reino Unido e ao mesmo tempo a morte na Europa Católica é associada à
prostituição no Médio Oriente e um símbolo de luto na Tailândia e no Brasil.
Independentemente
da religião, a utilização da cor para representar o luto é ponto em comum em todo
o mundo, e os povos exprimem de várias formas as suas emoções e respeito pela
morte de um semelhante (SOARES, 2020).
É sobre a morte da advogada
Cristiane Catrillon ocorrida dois dias após o Dia da Advocacia, no mês de
agosto (lilás) que quero provocar uma reflexão. Nem Pierre Bordieu ou Ferdinand
de Saussure conseguiriam analisar o significado e o impacto deste fato. Fico
imaginando quais seriam as estratégias discursivas utilizadas para amenizar
essa tragédia e restabelecer uma relativa tranquilidade para quem tem filhas e
irmãs.
À mulher foi imposto culturalmente um
toque de recolher. Existe uma absurda restrição ao direito e ir e vir de nós
mulheres e a violência sexual se tornou um cálculo naturalizado. Numa sociedade
machista é comum descredibilizar a palavra da vítima e deslegitimar o seu
comportamento.
No
dia 02 deste agosto (lilás) o ex jogador Daniel Alves, preso preventivamente há
mais de 6 meses, foi indiciado formalmente por um juiz na Espanha, onde uma
denúncia de estupro é investigada sob a acusação geral de agressão sexual e as
condenações podem levar a penas de prisão de quatro a 15 anos, e ao contrário
do Brasil, a sociedade espanhola não tem o habitus de julgar a
vítima.
Nesse agosto lilás (arroxeado)
precisamos fazer uma reflexão: o que estamos fazendo de concreto para
transformar nossa estrutura social com o fim de estabelecer o mínimo de
respeito e dignidade aos grupos que se encontram em situação de
vulnerabilidade?
Como a família, a escola, a
imprensa, as associações, os movimentos sociais, as religiões, as instituições
do sistema de justiça estão tratando a questão de gênero? Como as comissões de
enfrentamento ao assédio moral e sexual estão acolhendo as vítimas dessas práticas
e as comissões de ética estão se portando em relação a denúncias dessas
violências?
Quero externar os meus sentimentos a
toda família e amigos da advogada, que não tive oportunidade de conhecer em
vida, mas soube de seu esforço enquanto cidadã para intervir na realidade com o
objetivo de torná-la melhor.
É defensora pública de segunda
instância, mestre em Política Social, membro do ConDel do PPDDH do Estado de
Mato Grosso.
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