Respeito é um direito humano (por Tânia Regina de Matos)
O RESPEITO dos direitos e liberdades de todos os povos é um direito humano, conforme a Declaração
Universal dos Direitos Humanos proclama como ideal comum atingir todos os
povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e
todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se
esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses
direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de
ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação
universais e efetivos tanto entre as populações dos próprios Estados membros
como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.
Atualmente o maior consumidor de
agrotóxicos do mundo é o Brasil. A maior parte é usada em lavouras de soja,
milho e cana-de-açúcar nas regiões Sul, Centro-Oeste e em São Paulo. Apenas
cinco dos maiores produtores respondem por mais de 50% dos agrotóxicos
consumidos no país.1
Durante uma pesquisa
realizada por Beserra nos municípios de Campo Novo do Parecis, Sapezal e Campos
de Júlio, em Mato Grosso, a partir do referencial teórico-metodológico da
Epidemiologia Crítica, em seis escolas (uma rural e uma urbana em cada um nos
municípios de Campo Novo do Parecis, Sapezal e Campos de Júlio) foram coletadas
amostras de água de poços artesianos e chuva das seis escolas.
Nas amostras de poços
artesianos foram detectados resíduos dos herbicidas atrazina (0,12 µg/L a 0,28
µg/L) e metolacloro (0,34 µg/L a 0,63 µg/L) em quatro poços artesianos, dos
seis poços analisados. Nas amostras de chuva 55% apresentaram resíduos de pelo
menos um tipo de agrotóxico entre os detectados (metolacloro, atrazina,
trifluralina, malationa e metribuzim), tendo o metolacloro a maior frequência
de detecção (86%) entre as amostras positivas.
Os resultados das
análises nas amostras ambientais demonstram que os componentes hídricos e
atmosférico dos ecossistemas nos municípios estão contaminados por agrotóxicos.
Os elementos e processos protetores e destrutivos mapeados no território
escolar, bem como as poluições evidenciadas na chuva e em água de poços
artesianos, compõem as relações e os processos de vulnerabilização
socioambiental das populações destes municípios, sendo relevantes para a
atenção a atuação da Vigilância em Saúde nesses territórios.
O
agronegócio é apontado pelo Relatório do Fórum de Direitos Humanos e da Terra de
2021 como o principal responsável por muitas mazelas, inclusive pela grilagem
de terras, concentrando riqueza nas mãos de poucos e espalhando miséria entre o
pequeno produtor, pois, expropria terras e territórios do povo camponês,
quilombola e do povo indígena; envenena com agrotóxicos o solo, o ar, as águas,
as florestas, os alimentos, as pessoas e até o leite materno, sendo também
utilizados como arma química para expulsar o povo do campo; e transforma a
terra, as pessoas, os animais, a água, as plantas, os alimentos, enfim, a vida
em mercadoria, em ‘negócio’.
Nesse sentido, Krenak nos ensina
que a “sustentabilidade”, por exemplo, é um “mito [...] inventado pelas
corporações para justificar o assalto que fazem à nossa ideia de natureza”,
pois, quando dissociamos o homem da terra, do rio e das florestas despersonalizamos
os recursos naturais, nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos
da atividade industrial e extrativista.
Krenak destaca ainda que, em vários lugares, há pessoas “lutando para este planeta ter uma chance” através da agroecologia e da permacultura, entretanto, sem respeito as liberdades e direitos de todos os povos (incluindo aí os povos tradicionais) não conseguiremos abrir caminhos para adiar o fim do mundo. É nosso dever enquanto estudiosos e estudiosas dos direitos humanos ser um(a) ponto(a) focal e sobretudo multiplicador(a) do conhecimento que nos tem chegado por meio desse curso.
REFERÊNCIAS:
[1] SENADO NOTÍCIAS. In
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/09/16/especialistas-criticam-aumento-do-uso-de-agrotoxicos-e-pedem-apoio-a-novas-tecnologias Acesso
em 12 de set de 2023
Fórum
de direitos humanos e da terra : relatório estadual nº 6 : Mato Grosso : 2021 :
50 anos da carta pastoral : uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio
e a marginalização social / organização Inácio José Werner, Roberto Rossi,
Teobaldo Witter. -- 1. ed. -- Cuiabá, MT : Centro Jesuíta de Cidadania e
Assistência Social, 2021. Vários colaboradores. Bibliografia. ISBN
978-65-999342-0-9
FONSECA,
G. F. e ROCHA, J. C. S. R. Direitos humanos I Salvador: UFBA, Faculdade de
Direito; Superintendência de Educação a Distância, 2023. 103 p. il.
Discussão em Fórum Temático, atividade avaliativa do Curso de Especialização em Direitos Humanos apresentada na UFBA - Polo Vitória da Conquista
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