Segundo Alexandra Kollantai a prostituição é um fenômeno social complexo e suas raízes são econômicas. Ela afirma ainda que a prostituição é algo que fere o coletivo, é um mal e se tornou extremamente difundido, mas varreu-se para de baixo do tapete. A prostituição ameaça o sentimento de solidariedade entre os homens e mulheres. Está intimamente ligada à renda não produtiva e prospera numa época dominada pelo capital.
As prostitutas, sob o ponto de vista da socialista, são mulheres que vendem seus corpos pelo benefício material – por comida decente, por vestimentas e outras vantagens; as prostitutas são todas aquelas que evitam a necessidade de trabalhar dando-se para um homem, seja em uma base temporária ou por toda a vida.
A autora vai mais longe quando diz que a prostituição surgiu nos primeiros Estados como a inevitável sombra da instituição do casamento, a qual foi projetada para preservar os direitos à propriedade privada e garantir a herança de propriedade através de uma linhagem de herdeiros legítimos. O mundo antigo tratava a prostituição como o complemento legal das relações familiares exclusivas.
Nos séculos XIX e XX a prostituição assume proporções ameaçadoras pela primeira vez. A venda da labuta da mulher, que é íntima e inseparávelmente conectada com a venda do corpo feminino aumenta constantemente, levando a uma situação onde a respeitada esposa de um operário, e não somente a garota abandonada e “desonrada”, se junta às fileiras das prostitutas: uma mãe pelo bem de seus filhos, ou uma jovem moça pelo bem de sua família. Este é o horror e a desesperança resultantes da exploração do trabalho pelo capital. Quando a renda de uma mulher é insuficiente para mantê-la viva, a venda de favores parece uma possível ocupação subsidiária. Em tempos de crise e desemprego o número de prostitutas aumenta imediatamente. (Kollantai, 1921)
A autora lista como fatores responsáveis pela prostituição: baixos salários, desigualdades sociais, a dependência econômica das mulheres pelos os homens, e o costume nocivo pelo qual as mulheres esperam ser apoiadas em troca de favores sexuais ao invés de em troca do seu trabalho. A pessoa que não trabalha e vive de outra pessoa ou de renda não produtiva afeta a coletividade e a república. Deve-se lutar contra a prostituição como forma
de deserção do trabalho.
Um homem que compra os favores de uma mulher não a vê como uma uma pessoa com direitos iguais. Ele vê a mulher como dependente dele, como um produto e como uma criatura desigual de uma ordem inferior que é de menor valor. O desprezo que ele tem pela prostituta, cujos favores ele comprou, afeta sua atitude com todas as mulheres. (idem)
O atraso político das mulheres e sua falta de consciência social é uma segunda razão para a prostituição. A melhor forma de combater a prostituição é elevar a consciência política para as amplas massas de mulheres.( idem)
As mulheres devem trabalhar em conjunto com a educação para motivar a questão da correta organização da educação sexual nas escolas, discutir e incentivar leituras sobre e casamento, a família e a história do
relacionamento entre os sexos, destacando a dependência desse fenômeno e da
própria moralidade sexual de fatores econômicos. (idem)
A prostituição é um ato aberto de calculismo material que não deixa espaço para considerações de amor e paixão. Onde a paixão e a atração começam, a prostituição termina (idem).
Referência: KOLLANTAI, Alexandra. In A prostituição e as maneiras
de combatê-la, durante a Terceira Conferência de toda Rússia de Líderes dos Departamentos
Regionais das Mulheres, em 1921. Fonte: Que Cem Flores
Desabrochem! Que Cem Escolas Rivalizem! e Nova Cultura. Tradução: Henrique Vilhena e
Glauco Lobo HTML: Fernando Araújo.
Agora que você conhece algumas ideias de Alexandra Kollantai, diz aí ela era ou não uma visionária?
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