A figueira seca e a individuação
Nunca fez tanto sentido para mim a Parábola da Figueira Seca ao ler o significado da palavra “individuação”. Individuação é o processo pelo qual uma parte do todo se torna progressivamente mais distinta e independente; diferenciação do todo em partes cada vez mais independentes.
Para quem acredita em Deus ou em um
Poder Superior, ou Absoluto, deve sentir que Ele nos intima a uma vida mais
ampla, convidando a nossa consciência a manter um relacionamento mais cuidadoso
com nossa jornada. Se estivermos a serviço da nossa alma, raramente poderemos
estar a serviço do rebanho.
James Hollis, analista junguiano,
afirma que não podemos servir a dois senhores sem pagar um preço excruciante. Se
de fato desejamos uma existência ampliada, nossa missão é contribuir com nossa
sociedade e nossas famílias, e partilhar com os outros. Nesta linha de
raciocínio, o autor aborda a individuação, explicando que ela nos afasta do
rebanho, do coletivo, mas ao mesmo tempo aprofunda o âmbito do qual
relacionamentos mais autênticos podem ocorrer.
O indivíduo não é um ser sozinho, e
como sua existência pressupõe um relacionamento coletivo, segue-se que o
processo de individuação deva levar o indivíduo a desenvolver relacionamentos
coletivos mais intensos e amplos e não ao isolamento. Deixar de seguir o
rebanho é a melhor maneira de, na hora certa, voltar ao mundo e servir.
A individuação separa a pessoa da
conformidade pessoal, da coletividade. Em vez de perguntar o que minha tribo
exige de mim, o que me fará ganhar aprovação coletiva, perguntamos “O que Deus
pretende de mim?” ou “Senhor, o que queres que eu faça?” como indagou Saulo de
Tarso em Damasco.
Os falsos deuses de nossa cultura:
poder, materialismo, hedonismo e narcisismo, sobre os quais projetamos nosso
anseio por transcendência, somente nos diminuem. Escolher o caminho que nos faz
crescer vai sempre significar escolher o caminho da individuação. Escolher o
caminho que nos faz crescer nos impulsionará a encontrar a pessoa que
pretendemos ser.
A figueira
seca é o símbolo de todas as pessoas que têm os meios de serem úteis e não o
são; de todas as utopias, de todos os sistemas vazios, de todas as doutrinas
sem base sólida, portanto, basta fazer uma leitura pura e simples de tudo que
nos tem sido apresentado como solução para os problemas civilizatórios para
verificar quais foram os frutos de tais sistemas e doutrinas.
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