Comentário sobre uma notícia de trabalho escravo

 

A manchete da notícia que trago para comentar é do dia 01/08/23: “Trabalhador rural relata condições precárias em fazenda dentro de reserva[1].” Além de crimes ambientais, pessoas estavam sendo exploradas em trabalho análogo à escravidão. Em 2021, uma família do Maranhão foi contratada para trabalhar na Fazenda Santo Antônio, dos irmãos Edner Aparecido Ferri e André Fernando Ferri, em Guarantã do Norte (MT). Além de criar gado ilegal, os irmãos Ferri levaram a família para trabalhar em condições precárias na lida com o gado. Um dos trabalhadores mostra a água que tinham para beber. O filho mais novo da família, um menino de 8 anos também organizava a boiada. O Brasil assinou tratados internacionais de Direitos Humanos se comprometendo a preservar o meio ambiente e assegurando a educação para crianças e adolescentes, além de que a própria Constituição Federal também resguarda o meio ambiente e proíbe o trabalho para menores de 18 anos, salvo a condição de aprendiz, entretanto, quando a família é numerosa, encontra-se em situação de vulnerabilidade, reside ou tem por ofício serviços que só podem ser executados em zona rural, os proprietários que recebem essas famílias não se preocupam em oferecer direitos básicos para esses trabalhadores e muito menos educação para seus filhos, exatamente por que essas famílias não se encontram em condições de exigir. O Direito moderno ainda não reflete o multiculturalismo porque o poder político e jurídico é determinado pelo modo de produção. Aqui no Mato Grosso o agronegócio, atividade que desmata e explora os recursos naturais, através do poder simbólico convenceu a grande maioria da população de que está sustentando o Estado. O pluralismo jurídico pode ser uma via de aperfeiçoamento do regime democrático, mas é preciso que haja uma sociedade civil organizada apoiada por uma instituição forte, autônoma que tenha coragem de enfrentar os sistemas interligados de opressões, assim como fazem as teóricas do feminismo decolonial a exemplo de Vergès (2019) que opõe-se frontalmente ao capitalismo, ao racismo e ao sexismo, sem sobrepor uma forma de dominação à outra.



[1] https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/08/01/trabalhador-rural-relata-condicoes-precarias-em-fazenda-dentro-de-reserva-nao-tinha-banheiro-nao-tinha-nada.ghtml

 Texto de minha autoria apresentado como atividade no Curso de Especialização em Direitos Humanos na UFBA.

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