Objeto de avaliação e monitoramento: moradia.

 

            Os direitos humanos são uma construção permanente da humanidade que busca dignidade. Essa construção é gradual e histórica, ou seja, feita através de reinvindicações de bens materiais e imateriais essenciais à satisfação das necessidades humanas universais.  

          As lutas e práticas sociais desencadeadas para se ter acesso ao mínimo existencial são justificadas em razão da desigual distribuição dos bens entre a população, pois, uma pequena parte tem amplo acesso à terra, moradia, água e alimento, enquanto uma grande parte vive subalternizada, à margem dos direitos mais básicos, assegurados em inúmeros documentos internacionais de proteção aos direitos humanos.

            Os conflitos oriundos dessa desigualdade conduziram à construção de sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos. Assim, para dar efetividade a esses direitos foram criados pela Organização das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos, os Relatores Especiais e o Alto Comissariado de Direitos Humanos para monitorar as ações dos Estados (CUNHA, 2024).

          A relatoria do Conselho de Direitos Humanos é ocupado por uma especialista,   que em regra exercen seu trabalho de forma independente, não integra os quadros da ONU e tem mandato de três anos, com possibilidade de uma recondução. A função não é remunerada, mas recebe do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, sediado em Genebra, apoio em recursos humanos e logísticos e assistência para pesquisas[1].

            Raquel Rolnik, urbanista e professora, foi uma das brasileiras que ocupou a Relatoria Especial para o Direito à Moradia Adequada da ONU entre os anos de 2008 e 2014, período em que visitou diversos países e traçou um diagnóstico para a crise global de moradia (CAZES, 2015).

            A professora explica a financeirização da moradia como um processo que se acelerou a partir do final da década de 1970. Nos países centrais houve o desmonte das políticas habitacionais baseadas em conjuntos construídos e mantidos pelo Estado, que cobrava um aluguel acessível das famílias, em prol do financiamento para a compra da casa própria, inclusive com subsídios públicos (op. cit).

            Nesse modelo, a dívida migra do Estado para as famílias, que precisam se endividar para ter acesso a um lugar para morar, uma vez que as alternativas menos dispendiosas deixaram de existir. A casa própria virou um novo produto ofertado pelo mercado para aqueles que estavam fora dele (idem).

            A financeirização atingiu também as terras urbanas, atrativas por servirem, elas próprias, de garantia aos capitais investidos. As políticas públicas passaram a buscar a maximização do rendimento da terra através da permissão para grandes empreendimentos, como shoppings e torres corporativas. O principal problema é que esse fenômeno acarreta a expulsão das populações que vivem nessas áreas engolindo comunidades tradicionais, por exemplo.

            Dois achados da Relatoria Especial para o Direito à Moradia Adequada no Brasil merecem destaque: 1)-os conjuntos do Programa Minha Casa, Minha Vida têm uma localização periférica, que compromete o acesso aos serviços básicos de saúde e educação e a postos de trabalho e 2)- a população de baixa renda tem dificuldade para dar manutenção nas construções.

            Conforme ensinamentos da professora Raquel Rolnik a saída é o governo desenvolver várias políticas públicas que atuem em diferentes frentes, como a integração dos assentamentos informais à cidade, locação social, estímulo a cooperativas de autogestão habitacional e, eventualmente, o controle dos aluguéis, soluções que poderiam ser aproveitadas no Rio Grande do Sul, que após um mês das enchentes ainda não resolveu a situação das 581 mil pessoas desalojadas e 40 mil que perderam suas casas. O Governo Federal anunciou que comprará 2 mil imóveis através da Caixa Econômica Federal para destinar aos desabrigados, o prefeito de Porto Alegre e o governador do RS, continuam com a política de “casas provisórias” para a população dos abrigos[2].

REFERÊNCIAS:

 CAZES, L. 2015, Raquel Rolnik investiga causas da crise global da moradia in https://oglobo.globo.com/cultura/livros/raquel-rolnik-investiga-causas-da-crise-global-da-moradia-18273921 acesso em 13 de jun de 2024.

 CUNHA, A., N. S. Direitos Humanos III: a proteção internacional dos direitos humanos. E-book Provisório. Universidade Federal Da Bahia Faculdade De Direito Curso De Especialização Lato Sensu Em Direitos Humanos E Contemporaneidade.



[2] https://averdade.org.br/2024/06/governo-rs-casa-40-mil-pessoas-abrigos/ acesso 14 de junho de 2024


Atividade apresentada em Curso de Especialização da UFBA, POLO Vitória da Conquista

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