Tricô feito por presos de Juiz de Fora chega à São Paulo Fashion Week
Peças em tricô e crochê fazem parte do desfile da coleção de inverno 2015
Produção feita pelos presos já é exportada para 11 países.
Oito detentos da Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires, em Juiz de Fora,
produziram 20 peças em tricô e crochê para a coleção de inverno 2015 da
grife Iódice, que será apresentada nesta quarta-feira (5), durante a
São Paulo Fashion Week - principal evento de moda do país, que segue até
sexta-feira (7), na capital paulista. Os presos integram o projeto Flor
de Lotus, que atualmente trabalha com a reinserção social de 18 homens.

O projeto é uma parceria que existe há cinco anos entre o Governo de
Minas, através da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), e a
marca Doisélles, da estilista mineira Raquell Guimarães. Mais de 100
detentos já passaram pelo Flor de Lotus, e a produção já é exportada
para 11 países, além de estar presente em 70 lojas multimarcas em todo o
Brasil.
De acordo com a diretora-geral da penitenciária, Ândrea Andries, os
presos trabalham dentro de um ateliê montado na unidade prisional e são
divididos em duas turmas que confeccionam peças em tricô, crochê, além
de macramê, utilizando fios feitos de garrafas pet. Para participar do
Flor de Lotus, eles devem estar estudando, ter bom comportamento e ainda
passar por um teste de habilidade. "Os presos estudam na parte da manhã
e trabalham de tarde. Mas a condição principal é estar estudando. São
seis horas diárias de trabalho e duas horas e meia de estudo. Isso de
segunda a sexta. Com certeza a vide destes homens mudou e agora têm
prazer em estudar, estão mais atentos e sensíveis, pois o trabalho com o
tricô traz sensibilidade. Eu não esperava que estes homens pudessem
fazer tricô e crochê. O comportamento deles mudou e hoje é exemplar.
Agora, acredito que o ser humano pode superar todas as coisas. O que
precisa é oportunidade", disse a diretora.

Roupas integrarão desfile da coleção de inverno
(Foto: Marcilene Neves/Aquivo pessoal)
(Foto: Marcilene Neves/Aquivo pessoal)
Ândrea também contou que outros 40 detentos da Penitenciária
Público-Privada de Belo Horizonte começaram a ser treinados para
produzir peças para a Doisélles. "Eles são observados durante 60 dias.
Como disse, temos que avaliar o comportamento. Também preferimos presos
com penas maiores, acima de 20 anos, para que possam se dedicar a um
trabalho mais duradouro. Depois da avaliação dos perfis levamos dois
detentos de Juiz de Fora para treinar os demais na penitenciária de lá. O
trabalho em Belo Horizonte deve começar já na segunda quinzena de
dezembro", revelou a diretora da Ariosvaldo Campos Pires, ressaltando
que há uma fila enorme de interessados.
Pelo trabalho os presos recebem um salário mínimo, que é divido em três
partes: uma vai para a família do detento, outra para o Estado (para
custear despesas do próprio preso) e a parte final vai para uma espécie
de fundo que o detento retira ao deixar a prisão.
Luiz Paulo Pacheco da Silva, de 35 anos, participa do projeto Flor de
Lotus desde a implantação na unidade prisional de Juiz de Fora.
Condenado a 30 anos por assalto à mão armada, Pacheco viu a vida mudar
fio a fio. Ele conversou com o G1 por telefone com
autorização da Seds e disse que está muito contente. "Eu estou muito
feliz com o meu trabalho. Aprendi uma profissão e o que eu faço é
reconhecido e valorizado no Brasil e no exterior. Sinto que agora sou
uma pessoa respeitada. Quando sair daqui vou fazer cursos para aprimorar
meu conhecimento", contou o detento, que tornou-se monitor dos demais
participantes do projeto.
É Pacheco quem ensina tudo aos novatos. "Tudo que eu aprendo passo
adiante. A vida ficou bem melhor. A relação com a minha mãe ficou melhor
depois que aprendi essa profissão. Quando eu sair daqui vou fazer um
vestido para ela", declarou o detento.
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