O cansaço dos bons
O título deste artigo dá nome a uma obra de Roberto Almada, psicoterapeuta argentino da escola de Logoterapia (busca do sentido para a existência humana) que passou a ser difundida por Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de extermínio nazista.
Você acorda cansado e termina exausto
o seu expediente de trabalho? Percebe que ficou insensível, frio e duro em
relação às pessoas ao seu redor? Acredita que trabalha demais e inutilmente, e
o que faz perdeu seu sentido? Essas e outras questões são abordadas no referido
livro e se você respondeu sim as três perguntas é possível que esteja com o
“cérebro queimado”.
A expressão traduzida para o inglês é
burned out e foi utilizada pela primeira vez por Herbert J. Freudenberge
que trabalhava numa clínica de recuperação de toxicodependentes. O doutor Freudenberge
percebeu que os voluntários que cuidavam desses pacientes ingressavam com
grande entusiasmo, porém, o contato com o universo das drogas levava-os à transtorno
emocional.
Basicamente
o que acontecia com essas pessoas era um esgotamento dos recursos psicológicos
para enfrentar as exigências do trabalho de assistência a terceiros. Elas perdiam
o sentido existencial de sua vocação inicial por causa do desequilíbrio
prolongado entre o sentido da tarefa e a realidade do fracasso, levando-as a
baixa autoestima.
As
fases do esgotamento profissional nem sempre obedecem a mesma ordem, mas
frequentemente é a seguinte: ilusão e entusiasmo – o voluntário quer
transformar o mundo; desilusão – a pessoa fica impaciente, mas ainda trabalha
duro; frustração – perde gradualmente a confiança na própria capacidade;
desespero – tudo parece estar perdido e os sonhos jamais se realizarão (isso
pode estar acontecendo agora, em meio a uma guerra com alto potencial
destrutivo).
Muitas
pessoas superam esse mal em razão de um processo de aprendizagem. Segue algumas
dicas desse processo: 1)- definir limites nas relações com os demais: não se
comprometendo com inúmeras tarefas. 2)- Concentrar-se no campo de influência
local: mudar pequenas coisas no círculo que nos rodeia; 3)- Contemplar a beleza
que nos cerca: embeleze seu local de trabalho; 4)- Trabalhe melhor, em vez de
trabalhar mais: estabeleça objetivos realistas dentro de prazos que você possa
cumprir, use criatividade, planeje o tempo adequadamente, administre as coisas
com distância, sem levar trabalho para casa e finalmente cuide de suas emoções
e pensamentos.
Os
seres humanos constituem uma unidade de várias dimensões: biológica, psíquica e
espiritual. Frankl costumava dizer, como médico, que o espírito é a parte saudável
da pessoa doente. Segundo Charles Lafontaine (1905) não existe doenças
incuráveis e, sim, doentes curáveis ou incuráveis.
E nessa linha de raciocínio,
compartilho a minha admiração por um bondoso incansável. Frei Rodrigo trabalha
com a população de rua há muitos anos. Um verdadeiro super-humano, numa
perspectiva de humanidade. Diferentemente dos super-heróis ou super-heroínas,
que protegem os mocinhos dos bandidos, os super-humanos ou super-humanas são pessoas
comprometidas com o cuidado dos oprimidos(as), dos(as) invisíveis e
vulneráveis.
Que
possamos, em tempos de paz e de guerra, valorizar mais os super-humanos e
super-humanas, educando nossos(as) filhos(as) sem ameaçá-los, ensinando-os (as)
o respeito pelos outros (as) sem amedrontá-los(as) com o uso da força ou
castigo, assim, evitaremos criar tiranos(as), que se transformam em líderes tão
nocivos à sociedade.
Tânia Regina de Matos é Defensora Pública do Estado, voluntária da LÍRIOS.
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